1. Prometi a mim mesmo, não voltar a falar da crise, da troika e do rosário de consequências que derivam da situação em que caímos no último ano.
Todavia, direitos de cidadania como a liberdade de expressão e de opinião, o direito à indignação, à manifestação pública de opções políticas ou religiosas, enfim, a participação cívica, exigem que manifeste a minha opinião sobre o que nos rodeia sobre tema incontornável. E isto porque, quando somos chamados a votar, a democracia considera todos os cidadãos iguais em direitos, sejam eles analfabetos ou cientistas políticos, pequenos empresários ou banqueiros, assalariados agrícolas ou industriais.
No escrutínio eleitoral, não há votos mais ou menos qualificados. Todos têm o mesmo valor democrático.
Um dia destes, o país foi informado de que os troikianos num dos encontros com dirigentes partidários defenderam que o nosso país tinha hospitais a mais e que não se justificava uma política de saúde que desse tanta atenção aos cuidados continuados. Tudo para reduzir gastos na saúde que afectam, continuamente, o peso da dívida do estado.
Ora, Portugal caminha a passos largos para um declínio populacional, causado pela fuga de jovens para o estrangeiro e pelo envelhecimento contínuo da população, sobretudo no interior e nas zonas rurais.
Não fosse o contributo de jovens casais emigrantes africanos e brasileiros, residentes no litoral e nas zonas urbanas, e seríamos um país de idosos agarrados às canadianas ou ao bordão, imagens de um passado-presente que vendem muito bem no exterior e que revelam a triste realidade portuguesa.
Se estas pessoas que, apesar dos esforços realizados nos últimos anos, não tiverem um tratamento médico e hospitalar especial e dedicado, a mortalidade aumentará, naturalmente, e o país ficará ainda mais pobre.
Como é possível que representantes de instituições internacionais como a ONU e a União Europeia, que dizem defender os direitos humanos e a inclusão social, tenham o desplante de sugerir propostas como estas?
Acaso não foi a UE que consagrou 2012 como o ANO EUROPEU DO ENVELHECIMENTO ACTIVO E DA SOLIDARIEDADE ENTRE GERAÇÕES?
Não é o Governo Português que defende: “Viver mais tempo implica envelhecer. Maior longevidade não é um fatalismo ou uma ameaça. É uma vitória da humanidade e uma oportunidade de potenciar o "património imaterial" que significa o contributo das pessoas mais velhas.”?
Não podem ficar sem um veemente repúdio propostas tão desumanas que consideram os idosos como inúteis, improdutivos, peso demasiado elevado para o erário público.
Há dias, tomei conhecimento de que um vizinho fora despedido de uma empresa onde trabalhava há 20 anos. Resultado: o homem entrou em depressão. O patrão só aceitava pagar-lhe a indemnização durante 30 meses, mas a mulher, acompanhada de advogado, conseguiu que ele fosse ressarcido da importância em seis meses.
“O pior é que cada vez que o meu homem vai ao psiquiatra paga 90 euros por consulta e o dinheiro lá se vai”.
Quantos desempregados andam por aí acabrunhados, depressivos, sem saber como ocupar o tempo, porque as suas capacidades criativas e de trabalho foram jogadas para o meio da rua, por razões que não entendem, mesmo que políticos, comentadores e economistas as expliquem!... Quem cuida da sua saúde mental afectada por causas que não lhes podem ser imputadas? Quem restabelece a sua força anímica para melhores tempos que, certamente virão? Quem os prepara, profissionalmente, para enfrentarem novas tarefas numa nova economia que, acredito firmemente!, deitará por terra o pérfido conceito de que o dinheiro é que vale tudo e não a pessoa humana, que o lucro é o deus supremo e não a solidariedade entre os homens, e que o ter vale mais que o ser?
2. As próximas eleições regionais deverão esclarecer os açorianos sobre o ideário político e económico de cada formação política concorrente.
É importante o eleitorado saber em que pilares assentará o desenvolvimento económico nos próximos anos: se coloca o ambiente na base de todo o processo de crescimento económico ou se opta pela produção agrícola e piscatória em grande escala; se defende o turismo de massas ou um turismo amigo da natureza. Interessa saber se a educação, a saúde e a segurança social são direitos garantidos pelo Estado Social, ou se a iniciativa privada vai ocupar essa função atendendo às mais-valias que eles geram?
Interessa saber quem defende que sector público regional, o papel e a dimensão das administrações regional e local, bem como o papel que a iniciativa privada deve ter no processo de desenvolvimento. Importa que se saiba como promover as potencialidades da Zona Económica Exlusiva e da situação geoestratégica do arquipélago, atraindo novos investimentos, sem salvaguardando a sua gestão e soberania.
Nas próximas eleições, devemos saber quem defende o neo-liberalismo, e quem propõe soluções diferentes em busca de uma economia nova e emergente, fundada na preservação do ambiente, na solidariedade entre os homens e no desenvolvimento integral; quem segue os clichés estafados da mera redução do défice público, da redução de salários, da revisão do código laboral, medidas que geraram o crescente desemprego, o encerramento de empresas, a fome e a miséria.
É isto que está em causa nas próximas eleições por isso o povo quer saber, antes de decidir ou não em quem votar.
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